EXPERIÊNCIAS DE DESCOLONIZAÇÃO DOS CORPOS E SABERES
ISSN: 2764-9407
ISSN: 2764-9407
EDIÇÃO ATUAL (VOL.1 2024)
Como Matar o Que Não Morre?
Besouro e a história da capoeira para além de uma arte marcial
Daria Fernandes Oliveira
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João Daniel Tikhomiroff
Besouro (2009)
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Reconhecida como patrimônio cultural brasileiro desde 2008 e praticada ao redor de todo mundo, a Capoeira se consagrou como uma das mais famosas artes marciais da história. Presente hoje em todos os cinco continentes, sua origem se dá na junção de estilos de luta provenientes de Angola, trazidos para o Brasil por pessoas escravizadas da região, e elementos culturais indígenas e europeus, criando uma arte marcial única que também pode ser entendida como um estilo de música. Desta característica é que vem a sua função mais conhecida durante o período da escravidão: treinar técnicas de luta com o intuito de usá-las contra seus colonizadores e escravistas, enquanto os mesmos pensavam que aquele treino era na verdade uma inofensiva roda de música praticada por seus escravos.
Esta, porém, não é a única razão que explica o surgimento da arte marcial. Além do importante treinamento de combate, a Capoeira também servia para criar um senso de comunidade entre as pessoas escravizadas, era o lugar onde elas compartilhavam as histórias de suas culturas e povos, e as passavam adiante para novas gerações, mantendo tradições milenares vivas pelo passar do tempo.
Besouro, filme de 2009 dirigido por João Daniel Tikhomiroff, com roteiro de Patrícia Andrade e Bráulio Tavares, além de contar a história de um dos maiores capoeiristas que já existiram, também mostra como a capoeira foi um dos maiores símbolos de resistência cultural da população preta brasileira durante o passar dos séculos, desde o começo da escravidão até os dias atuais.
Ambientado na região do Recôncavo Baiano durante a década de 1920, o filme acompanha a história de Manoel Henrique Pereira, mais conhecido pelo seu nome de capoeirista Besouro Mangangá. Órfão desde a infância, Besouro acaba sendo criado pelo seu mestre, Alípio. Com a proibição da capoeira em todo o país, Alípio é assassinado por um capataz de Coronel Venancio, um latifundiário local que via a prática da capoeira como ameaça, o que faz Besouro e o grupo de capoeiristas do qual ele fazia parte buscar vingança pela morte de seu mestre. Sua estrutura, não por acaso, se baseia bastante em tramas e filmes de artes marciais clássicos, que imortalizaram estrelas do cinema como Bruce Lee e Jean Claude Van Damme, desde a vingança pela morte de alguém até tipos de arcos de história clássicos do gênero. A coreografia de suas lutas, inclusive, é feita por Huen Chiu Ku, coreógrafo responsável pelos combates apresentados no filme Kill Bill (2003).
Na questão técnica, Besouro se destaca por lutas excepcionais e uma excelente fotografia. O trabalho de composição histórica dos cenários, músicas e da trama cumpre bem em sua função, representando com fidelidade o Recôncavo Baiano da década de 1920. O roteiro, como já dito, é uma típica história de artes marciais com vingança que, mesmo não sendo comum para o cinema brasileiro, acaba caindo como uma luva ao contar a ficção histórica que reconta a história de um dos mais famosos capoeiristas que já existiram.
O foco de Besouro, porém, não se encontra em trazer este gênero cinematográfico à realidade brasileira, mas sim em demonstrar a já mencionada relação da Capoeira para além de uma arte marcial, na sua história e em seu significado cultural. Na obra Capoeira, identidade e gênero ensaios sobre a história social da capoeira no Brasil, de Josivaldo Pires de Oliveira e Luiz Augusto Pinheiro Lea, os autores discutem como a Capoeira durante o século XX começou a ser enxergada não como uma luta de resistência ou uma tradição ancestral, mas como um fenômeno já expatriado destas características que a originaram:
“No século XX, o referencial da capoeira se volta para a Bahia, onde na década de 30 foi criada a chamada Capoeira Regional e logo em seguida, como resposta a ela, se organiza a capoeira Angola. Ambas, segundo Vieira e Assunção, foram fruto de uma adequação ou modernização da capoeira, frente a um novo contexto histórico-social. As duas modalidades se opunham a uma outra espécie de capoeira – ancestral de ambas – que, conforme os discursos repressivos e até mesmo segundo alguns mestres mais antigos, era refúgio de “desordeiros e valentões”. A mudança de significado, ocorrida a partir da década de 20 do século passado, refletiu tentativas de manipulação política. Por consequência, acabou colaborando para transformar a capoeira em objeto de consumo, via folclorização.” (OLIVEIRA, LEAL, 2009, p.50)
Por mais que esta transformação tenha feito com que a Capoeira fosse reconhecida e praticada por todo mundo, a extirpação de sua história e de seus significados culturais fez com que boa parte de seu significado original se perdesse. É claro, porém, que diferentes movimentos tentaram resgatar este outro lado da Capoeira, que não só não foi esquecido, como ainda permanece vivo em obras como Besouro. A pergunta que dá título a esta resenha, “Como matar o que não morre?”, é feita por Exu a Besouro, em um momento onde diferentes Orixás testam o capoeirista e o convencem a partir em vingança pela morte de seu mestre.
Mais do que apenas uma frase solta por volta da metade do longa, ela sintetiza a trama do filme, a de Besouro Mangangá e a da própria Capoeira. Séculos de proibição, perseguição e da extirpação de suas tradições não foram suficientes para matar uma das mais importantes práticas culturais da diáspora africana no continente americano, graças aos esforços das pessoas que defendem seu legado, estejam elas presentes na produção de filmes como Besouro, no estudo de sua história ou em sua própria comunidade. O final do longa, onde o espírito de Besouro após a sua morte passa a defender diferentes pessoas de sua comunidade de agentes do Coronel, representa o seu legado ainda presente.
Referências bibliográficas
OLIVEIRA, Josivaldo Pires de; LEAL, Luiz Augusto Pinheiro. Capoeira, identidade e gênero: ensaios sobre a história social da capoeira no Brasil. EdUFBA, 2009.
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Data de Publicação: 19/09/2024
Autoria: Daria Fernandes Oliveira
Como citar esta resenha:
OLIVEIRA, Daria Fernandes. "Como matar o que não morre?". In: Experiências de Descolonização dos Corpos e Saberes. Vol.1 2024. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Departamento de História. Disponível em: https://www.descolonizandoconhecimentouerj.com/in%C3%ADcio/experi%C3%AAncias-de-descoloniza%C3%A7%C3%A3o-dos-corpos-e-saberes/arquivo/resenhas
ISSN 2764-9407
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EDIÇÃO 2 (VOL.1 2023)
Paletó: a história de um intelectual indígena
Escrito a partir da experiência do luto da autora com a perda do seu pai indígena, Paletó, o livro reconstitui os oitenta anos de vida desse intelectual, e por meio de sua trajetória, a história de um povo amazônico
André Vilaça Guerra Monteiro
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Aparecida Vilaça
Paletó e eu: memórias de meu pai indígena.
Editora Todavia. 200 páginas. R$ 33,00
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O livro Paletó e eu: memórias de meu pai indígena de Aparecida Vilaça, minha mãe, é escrito a partir da experiência do luto da autora com a perda do seu pai indígena, Paletó. Contrariamente ao que essa motivação inicial sugere, não se trata somente de um livro triste sobre morte ou de um lamento, mas também de um relato bem escrito, bonito e divertido. O livro recebeu o prêmio “Casa de las Américas” de 2020 de não-ficção e, em sua versão em inglês, a medalha de ouro em não-ficção criativa do “Independent Publishers Book Award” em 2022.
A partir de relatos do próprio Paletó e de sua família, assim como da experiência de trinta anos de convivência da autora com o povo Wari’, localizado no estado de Rondônia perto da fronteira com a Bolívia, o livro reconstitui os oitenta anos de vida desse intelectual indígena, e por meio de sua trajetória, a história de um povo amazônico. Em meio às narrativas de Paletó, a autora expõe a sua vida pessoal e familiar, que se vê entremeada com a dele. Ao falar da sua trajetória como antropóloga, mostra-nos muitas vezes as partes mais bonitas dessa profissão – as relações de amizade que se constroem durante o trabalho de campo, que acabam ficando de fora dos trabalhos acadêmicos. O impactante relato da morte que abre o livro é seguido do relato de situações cotidianas, muitas vezes engraçadas, que permitem ao leitor conhecer vida de uma aldeia amazônica, assim como acompanhar o espanto e as reações de Paletó em suas viagens para o Rio de Janeiro, para visitar a nossa família.
Embora voltado para o público leigo, pois é escrito em uma linguagem simples e fluida, o livro é de grande utilidade para historiadores, sobretudo para aqueles que trabalham com história indígena e história decolonial. Ao longo dos oitenta anos cobertos pelo livro, o leitor tem acesso à conjuntura histórica que levou à invasão de seus territórios por não-indígenas, inicialmente seringueiros e, mais tarde, agentes do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e da Funai, assim como missionários evangélicos e católicos, que tentaram (e conseguiram) convertê-los. Paletó nos relata os detalhes cruéis da invasão de seringueiros nos anos 1940 e 1950, a sua participação junto com os seus na defesa do território, os massacres de aldeias inteiras sendo que em um deles Paletó perdeu seu pai, irmão, esposa e filha, que viu tombarem mortos diante de si. Ao contato, seguiram-se epidemias que, ao final, dizimaram cerca de dois terços da população wari’.
Tive o privilégio de conhecer Paletó, a quem eu chamava de avô, desde os meus quatro anos de idade. Lembro-me do seu cuidado comigo, do tempo dedicado a preparar para mim um pequeno arco e me ensinar a flechar. Em uma de suas visitas à nossa casa no Rio de Janeiro, levei-os, junto com o seu filho Abrão, meu tio, para assistir no cinema o filme As aventuras de Pi em 3D. Quando, em uma das cenas do filme, um tigre escondido dá um salto, Paletó assustou-se e se escondeu debaixo da cadeira. Quando tentei explicar que o efeito de realidade era proporcionado pelos óculos, ele decidiu não mais usá-los. Em outra ocasião fui com eles em um restaurante de comida japonesa e ele me perguntou se ao comer peixe cru eu não tinha medo de que uma onça pudesse sentir o cheiro da carne crua em mim e me atacar. Respondi que na cidade não existiam onças e então ele complementou “Mas os cachorros grandes?”.
São esses pequenos casos e outros, relatados no livro, que me fizeram interpretar as situações cotidianas, sobre as quais eu jamais refletira, de maneira diferente. Sou grato à minha mãe pelas experiências que vivenciei em minhas várias estadias na aldeia, como caminhar pelo mato, caçar, sair de barco para pescar, tomar banho de rio, observar situações diferentes da cidade, experimentar novas comidas e entender o mundo por um outro ângulo, e também por me apresentar esse grande homem que foi Paletó e outros, que assim como ele, me ensinaram bastante.
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Data de Publicação: 30/03/2023
Autoria: André Vilaça Guerra Monteiro
Como citar esta resenha:
MONTEIRO, André Vilaça Guerra. "Paletó: a história de um intelectual indígena". In: Experiências de Descolonização dos Corpos e Saberes. Vol.1 2023. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Departamento de História. Disponível em: https://www.descolonizandoconhecimentouerj.com/in%C3%ADcio/experi%C3%AAncias-de-descoloniza%C3%A7%C3%A3o-dos-corpos-e-saberes/arquivo/resenhas
ISSN 2764-9407
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Uma releitura de Ler e escrever, de V. S. Naipaul
Autobiografia de um autor trinitário e de descendência indiana prova os impactos negativos gerados pela colonização linguística ocidental
Pedro Cunha de Lira
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V. S. Naipaul
Ler e escrever.
Editora Âyiné. 117 páginas. R$ 24,00
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Sou um explorador de silêncios. Essa minha curiosidade permite compreender a riqueza e diversidade de significados que essa palavra pode encarnar em diferentes contextos e ambientes: pode se tratar de uma ordem, onde alguém o emite para reorganizar todo desequilíbrio e excesso sonoro ao seu entorno; pode também ser uma ferramenta essencial que encaminha à contemplação, meditação e produção de algum ofício; e o seu significado mais trivial, popularmente definido como ausência de sons. Em todos esses casos, conjugados à ausência de leituras críticas sobre protagonismos até então, eu não era capaz de perceber que, entre tantos significados que a palavra silêncios poderia expor, outro já fora concebida, que é tão ancião quanto a sua barbárie: a colonização linguística. Esse modelo de colonização, ao mesmo tempo que é violento, suprime o protagonismo da linguagem nativa, que tem sua força de expressão e significados ancorados na oralidade, na escrita ou em ambas, forçando-as a adotarem as convenções de comunicação do colonizador e promovendo um auto-silenciamento. Constrói-se, portanto, um palco, onde a supremacia da comunicação se dá de maneira assimétrica aos atores colonizados; onde os atores, que dela se apropriam para romper com o silêncio, propõem a reflexão do quão custosa foram suas visibilidades em detrimento da perda de significados de sua linguagem nativa.
A violência linguística colonizadora, seguida de seu silenciamento, tem suas aparições em escala global. No aspecto dos povos nativos que possuem um sistema de escrita estabelecido, um ótimo e curioso exemplo é a pequena obra intitulada Ler e Escrever, do escritor trinitário Vidiadhar Naipaul (que assinava seus livros como V. S. Naipaul), vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 2001. Nesta obra, o leitor é transportado às memórias de infância de Naipaul, em Trindade e Tobago, quando esta era colônia do Império Britânico. Lá, notamos uma criança com a certeza de ser um escritor, mas dividida entre dois mundos que duelavam entre si, e a arena deste duelo era o campo da linguagem. A casa de seus avós, localizada numa colônia agrícola, era o único meio de contato com uma Índia rememorada a partir de um passado despedaçado. A religião de seus avós, junto de orações e cerimônias, era vista com estranheza por Naipaul, pois ninguém se preocupava em ensinar-lhe o idioma quando criança. Logo, por ter um superficial enraizamento de seu idioma nativo, as fracas raízes de uma Índia rememorada foram cortadas assim que o inglês penetrou em sua vida, minguando as forças de expressão de sua ancestralidade.
Se na disputa domiciliar de Naipaul, a conservação dos resquícios de sua ancestralidade encaminhava a uma batalha perdida, a escola, por sua vez, foi espaço de uma projeção de resistência. Enquanto colônia, Trindade e Tobago importava todos os recursos essenciais à sobrevivência: alimentos enlatados, remédios, filmes e, o essencial, os clássicos da literatura inglesa e gramáticas para alfabetização nas escolas. Portanto, os aspectos colonizadores não submetiam somente os corpos, tendo também como agenda a engenharia de um imaginário do colonizador.
Marcada pela literatura colonizadora, a infância de Naipaul é relatada junto a um grande incômodo pelo fato de não ter uma "chave imaginativa" independente. Sua imaginação, constantemente alimentada pelos gêneros narrativos, contextos sociais, construção de personagens baseados na metrópole, o impediam de ver-se como um escritor, visto que toda construção literária consumida não era compatível com suas pretensões de ambientar uma literatura em sua tradição, com elementos que já se apagavam em sua memória.
Em sua vida adulta, Naipaul despertará para a compreensão de toda a inquietação de sua infância, que anelava em ser escritor, quando obteve uma bolsa de estudos em Londres e foi convidado por acaso para escrever um livro sobre viagens. Tendo a oportunidade de viajar às comunidades locais de seus antepassados, com um maior repertório de leitura, ele irá empreender as ferramentas investigativas de um historiador - ir às fontes: documentos, memórias pessoais, testamentos, histórias locais - para a produção do seu livro. Mal sabia que estas seriam matérias-primas para produção de seus futuros romances e contos.
Ler e escrever não é apenas uma narrativa biográfica que compreende a trajetória de inquietações de uma criança colonizada com potencial de ser um grande escritor e que não tinha noção da violência linguística responsável por minguar seu potencial imaginativo. O livro também é uma espécie de declaração da importância da leitura dos clássicos. Graças às constantes e gentis reiterações do próprio autor, a obra também está longe de se propor como repertório para rechaço dos clássicos europeus. Naipaul reconhece nelas seus inigualáveis valores enquanto obras, modelos narrativos, construção de personagens e em sua formação intelectual.
Naipaul, ao se apropriar da linguagem colonizadora como ferramenta para equiparar essa assimetria da disputa linguística a condições iguais, revela o calcanhar de Aquiles de sua obra, falhando em um pequeno e essencial aspecto: esquece-se de compreender que uma língua está para além da simples capacidade de comunicação, e que cada palavra carrega uma semântica particular para entender e descrever o mundo, sendo resultado do modo de pensar de gerações, da identidade de um povo. Na tentativa de projetar seus romances sob a língua colonizadora inglesa, ambientados em sua antiga comunidade agrícola colonial, perde de vista os resquícios das capacidades de comunicação de seus antepassados e suas respectivas visões de mundo.
Tendo como pressuposto a violência linguística como arena das potências colonizadoras, como pensar a preservação das tradições e culturas de povos que são marcadas pela oralidade, atualmente? Em outras palavras, sendo a violência linguística de escala global, como resistem as comunidades nativas, no Brasil, com seu idioma que não é baseado em um sistema de escrita ocidental? Como se comportam os indígenas que, em contínua resistência a essa violência do silenciamento linguístico do colonizador, veem a ferramenta de tradução nos moldes de comunicação ocidental como uma perda abissal de significados e visão de mundo?
Certamente, seria fastidioso de minha parte elucidar cada pergunta junto de estatísticas concretas feitas recentemente pela Funai, por exemplo, quanto ao violento declínio dos números de falantes das línguas indígenas existentes no Brasil, algumas delas correndo risco de extinção. Logo, convém amalgamá-las, sem deixar de perder seus sentidos em comum - já tendo como êxito o objetivo da provocação levada aos leitores da importância da temática - em apenas uma pergunta: quais as consequências da perda de identidade de um povo ao ter sua língua silenciada por não se enquadrar na tradição de pensamento e ordem discursiva ocidental? Embora curtas, as respostas concedem uma dimensão vital da perda da língua enquanto sustentáculo de identidades. Para o historiador francês Bruno Delmas, com o crepúsculo da oralidade, perde-se, ao mesmo tempo, "sua utilidade psicológica e moral". Ter a possibilidade de conhecer suas origens é essencial para o homem; do contrário, a incapacidade de se reconhecer como parte de uma história coletiva geram "sujeitos neuróticos", amputados de sua ancestralidade. Para o historiador brasileiro José Bessa Freire, "A língua é o arquivo da história, é a canoa do tempo, responsável por levar os conhecimentos de uma geração à outra".
Essa nova concepção de silêncio, fruto de ações colonizadoras, é democrática, no sentido de que não tem preferência continental ou exclusividade de subjugar linguísticamente um único povo. Suas ações são engenhosas, expansivas e modeladoras; são sutis, quase que imperceptíveis. Embora estejamos falando de continentes diferentes, de culturas em nada semelhantes, de épocas distintas, em Naipaul e nos indígenas brasileiros vemos um denominador comum: (re)existir através da linguagem. Seja pela apropriação da língua inglesa pelo trinitário, para sua projeção no universo literário; seja também pela preservação das línguas nativas brasileiras, exercendo a tradição da oralidade, muitas delas incapazes de serem transcritas por consequência de suas complexidades fonéticas, de significados, sem encontrar palavras equivalentes no português. Retomando o início do texto, portanto, não é apenas a palavra silêncio que se abre para ter mais um significado - de violência linguística -, mas amplia-se nossa concepção semântica limitada a respeito de outras palavras também. Palavras como guerra, extinção, violência, esquecimento e colonização também têm novos desdobramentos de significados, quando seguidas pela lógica proposta; abrindo caminho reflexivo, portanto, onde as modalidades de violências não se apresentam unicamente de modo horizontal, isto é, fisicamente; mas têm sua agenda de ação na esfera vertical (identidades), onde atuam confortável e silenciosamente.
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Data de Publicação: 17/01/2023
Autoria: Pedro Cunha de Lira
Como citar esta resenha:
LIRA, Pedro Cunha de. "Uma releitura de Ler e escrever, de V. S. Naipaul". In: Experiências de Descolonização dos Corpos e Saberes. Vol.1 2023. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Departamento de História. Disponível em: https://www.descolonizandoconhecimentouerj.com/in%C3%ADcio/experi%C3%AAncias-de-descoloniza%C3%A7%C3%A3o-dos-corpos-e-saberes/arquivo/resenhas
ISSN 2764-9407
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EDIÇÃO 1 (VOL.1 2022)
Da Terra Média para Orïsha
Filhos de Sangue e Osso resgata o gênero de fantasia das mãos da branquitude europeia
Daria Fernandes Oliveira
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Tomi Adeyemi.
Filhos de Sangue e Osso.
Fantástica Rocco. 603 páginas. R$ 49,90.
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É impossível pensar o gênero de fantasia sem lembrar de J.R.R. Tolkien e o mundo da Terra Média por ele criado. Histórias sobre criaturas mágicas, heróis, magos, grandes batalhas entre cavaleiros e tesouros escondidos em masmorras são famosos tropos do gênero que foram estabelecidos pelo autor em livros como O Hobbit, O Senhor dos Anéis e O Silmarillion. Fora o sucesso inquestionável que estas obras tiveram em inspirar incontáveis pessoas pelo mundo, elas acabaram também por inspirar outras obras de quase igual sucesso, desde outros livros considerados clássicos como Eragon, A Roda do Tempo e As Crônicas de Gelo e Fogo, até jogos como Dungeons & Dragons, The Witcher, The Legend of Zelda, Final Fantasy e muitos outros.
Outro fato inseparável, e inconveniente, das obras de Tolkien, é como elas são fortemente inspiradas em ideias racistas e supremacistas brancas de seu tempo. Mesmo que existam discussões imensas sobre o fato de Tolkien ser ativamente uma pessoa racista ou não, o mesmo era imensamente influenciado por estes ideais. Para a pesquisadora australiana Helen Young, em sua tese Race and Popular Fantasy Literature: Habits of Whiteness (Raça e Literatura de Fantasia Popular: Hábitos da Branquitude, em tradução livre), a Terra Média de Tolkien e as obras inspiradas na mesma têm sua origem em concepções racistas do início do século XX, como a eugenia e o orientalismo.
As raças da Terra Média, como elfos, anões, hobbits e orcs, concentram em si diferentes estereótipos racistas associados pelos europeus a diferentes povos da África, Ásia e das Américas. Um exemplo disso é como os chamados “homens do sul” são, ao contrário dos “homens do norte”, apresentados na obra como sujos, bárbaros e violentos. Os estereótipos propagados por Tolkien, assim como os diferentes tropos por ele criados, se espalharam e se misturaram com o gênero moderno de fantasia, fazendo com que a maior parte das obras que tiveram inspiração em Tolkien propagassem o racismo embutido na obra original sem nenhum tipo de consciência ou retratação.
Felizmente, de tempos em tempos surgem novas obras de fantasia que não só abdicam desse passado racista do gênero, como tentam ativamente combatê-lo. Este é o caso de Filhos de Sangue e Osso, de Tomi Adeyemi, o primeiro livro da triologia O Legado de Orïsha, que ao invés de criar um mundo de fantasia formado por elfos, dragões e romantizações da Europa medieval, concentra o protagonismo em uma terra onde Orixás e a cultura Iorubá são os principais elementos de uma narrativa que encontra espaço para falar sobre genocídio, vingança, amor e esperança.
Para pensar a importância da obra, é preciso entender como sua autora teve inspiração para fazê-la. Tomi Adeyemi, autora estadunidense de origem nigeriana, teve o seu primeiro contato com as histórias dos orixás quando foi para Salvador por meio de uma bolsa de estudos destinada ao estudo da mitologia, religião e cultura africanas, logo após se graduar em Literatura Inglesa pela Universidade de Harvard. Na capital baiana, ficou encantada com a existência desses temas e, anos mais tarde, usou sua pesquisa como base para criar o mundo onde os eventos de Filhos de Sangue e Osso ocorrem.
A obra se passa no continente de Orïsha, um pouco mais de uma década depois do evento conhecido como “A Ofensiva”, um genocídio perpetrado pelo Rei Saran de Orïsha contra os Maji, pessoas que foram abençoadas com o poder dos deuses, possuindo cabelos brancos e a capacidade de manipular diferentes aspectos da natureza como o fogo, a água, o vento, a luz e até a morte. Após "A Ofensiva", porém, os pouquíssimos Maji que sobreviveram acabaram perdendo sua conexão com os deuses, e a magia foi extinta de Orïsha, deixando os antigos Maji (chamados agora de “divinais”) à margem da sociedade e à beira do extermínio.
É com esse quadro que a história de Zélie, uma menina divinal que vive com seu pai, sua mentora, e seu irmão Tzain se inicia. Após precisar fazer uma visita à capital imperial acompanhada de seu irmão, Zélie descobre que a magia pode não ter sido totalmente extinta, e que talvez exista um jeito de obter novamente seu poder, usá-lo para derrotar o Rei Saran e salvar os Maji do completo extermínio.
A saga de Zélie não foge da clássica jornada do herói e parece clichê em diversos momentos. Mas o que mais me manteve presa a este universo foi o fato dele se diferenciar de qualquer obra de fantasia que eu já havia consumido. Se a narrativa pode, como já dito, ter seus lugares-comuns, o mundo e a cultura de Orïsha fogem completamente disso. Tudo que os personagens descobriram, desde magias escritas em Iorubá, os poderes dos Orixás e os costumes culturais reais, foram estudados pela autora e levados para a obra de maneira excepcional. Até mesmo nomes de lugares reais, como Lagos e a Cidade do Benin, se encontram presentes no livro.
Outro fator que se difere fortemente das obras clássicas de fantasia é o conceito de “raça”. Em Orïsha, a maior divisão existente entre a população se dá entre os Maji e os Kosidán, humanos que não possuem poderes mágicos. Esta divisão, inclusive, se difere bastante das concepções de raça mais comumente pensadas, já que não são traços de aparência (fora os cabelos brancos) que as definem, e sim a presença de poderes mágicos, podendo assim membros consanguíneos de uma mesma família serem Maji ou Kosidán.
Porém, engana-se quem pensa que o racismo não é debatido na obra de Adeyemi, já que em diversos momentos fica evidente como os Maji sofrem, principalmente nas mãos das forças da monarquia, e são vistos constantemente como sub-humanos por seus algozes. A diferença principal de Filhos de Sangue e Osso para qualquer outra obra famosa de fantasia é que a mesma sabe como trabalhar a temática do racismo sem perpetuar as práticas e estereótipos racistas associados ao gênero.
Mesmo que as mais de 600 páginas do livro tenham passado voando para mim, é importante ressaltar que a saga de Zélie não se resume a este livro. Ela continua em uma trilogia que já conta com seu segundo livro, Filhos da Virtude e da Vingança, e um terceiro livro anunciado, mas ainda sem data de lançamento, com o título em inglês de Children of Anguish and Anarchy.
Após me aventurar junto a Zélie por Orïsha, ficou claro para mim que Filhos de Sangue e Osso é um livro essencial para qualquer leitor de fantasia. Em sua obra, além de nos apresentar um riquíssimo universo ainda pouco adaptado para o gênero, Tomi Adeyemi faz o importante movimento de resgatar das mãos da branquitude europeia o gênero da fantasia. A autora, claro, não é a única neste processo, mas o sucesso de público e crítica da obra demonstram como histórias assim não são só bem vindas, mas desejadas por um público que talvez esteja saturado de elfos e dragões, e que queira explorar universos onde orixás e outras tradições iorubá sejam seus principais elementos.
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Data de Publicação: 15/12/2022
Autoria: Daria Fernandes Oliveira
Como citar esta resenha:
OLIVEIRA, Daria Fernandes. "Da Terra Média para Orïsha". In: Experiências de Descolonização dos Corpos e Saberes. Vol.1 2022. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Departamento de História. Disponível em: https://www.descolonizandoconhecimentouerj.com/in%C3%ADcio/experi%C3%AAncias-de-descoloniza%C3%A7%C3%A3o-dos-corpos-e-saberes/arquivo/resenhas
ISSN 2764-9407
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Crônicas Ameríndias
História em quadrinhos que narra o folclore e a mitologia dos povos indígenas dos Grandes Lagos prova que é possível apresentar boas histórias com protagonismo indígena
Bernardo de Melo Scalercio
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Gustavo Schimp, Enrique Alcatena.
Crônicas Ameríndias.
Comix Zone. 144 páginas. R$ 90,00
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Eu ainda tenho memórias extremamente vívidas da minha infância de chegar em casa depois da escola, ligar a TV e passar umas boas horas assistindo Pica Pau e depois ir jantar. É interessante imaginar que esses episódios conseguiram me atingir e marcar a minha infância e de muitas outras pessoas praticamente 60 anos depois de sua exibição original. Mesmo com todo esse ar de nostalgia, revisitar esses episódios hoje em dia é uma experiência extremamente curiosa. Retirando a roupagem de humor físico e a ironia dos anos 60, o pequeno e irreverente pássaro azul e vermelho é extremamente preconceituoso – e da forma mais descarada possível. Analisando o desenho com um olhar mais treinado, é impossível não notar que muitas das vezes os alvos do protagonista são indígenas ou em um dos episódios mais memoráveis um jacaré praticante de “voodoo”. Esses pequenos detalhes simplesmente nos passam despercebidos na infância, mas a forma como esses povos são representados pelo audiovisual tende a ter um impacto muito grande em nosso imaginário, que muitas vezes é difícil de dissociar.
A imagem que o estúdio Walter Lantz constrói é de um indígena ignorante e inocente e de uma cultura ridicularizada pelo estereótipo do “mim ser índio”, dança da chuva e cachimbo da paz. A maioria desses episódios tem como foco principal o indígena que tenta capturar o Pica Pau – ou seu cavalo, Pé de Pano – mas que é passado para trás pelo pássaro de intelecto superior. Mas não menos importante, em um surto de crítica social, esbarrei em um episódio que abordava a questão identitária dos povos nativos, no qual um indígena que se acostumou com a vida na cidade não conseguia se adequar às práticas de caça em sua aldeia, e por isso é ridicularizado tanto pelo chefe da aldeia como pelo Pica Pau. Os episódios produzidos entre as décadas de 60 e 70 tinham um viés nacionalista extremamente poderoso, presente seja no protagonista pedindo socorro ao “Tio Sam”, seja na concepção preconceituosa do estúdio do que era qualquer outra forma de cultura que não a branca.
Décadas depois os estúdios Disney produziriam o que seria uma representação mais positiva – entre algumas aspas - dos povos indígenas na América do Norte: Pocahontas. É inquestionável que o filme se apresenta mais agradável que Pica Pau. A Disney tem um histórico bem interessante relacionado ao tema. Em 1937, o estúdio produziu um curta chamado O Pequeno Hiawatha, que narra a aventura de um indígena em sua caçada. O curta conta com apenas 8 minutos e apresenta aquele padrão Disney clássico de caricatura, mas vale a pena assistir para poder entender também esse momento inicial da produção audiovisual. Além disso, é bem mais inofensivo que as outras duas obras já citadas, visto que o enredo gira ao redor do pequeno indígena e sua inexperiência e inocência, que culmina em um mágico momento Disney onde toda a floresta se une para o ajudar. Entretanto, Pocahontas falha no principal ponto onde deveria acertar: dar protagonismo ao nativo. E é compreensível o porquê. O filme tenta construir um constante balanço entre o nativo e o colonizador. A questão é que desde os primeiros minutos fica claro como aqueles ingleses já estavam acostumados a matar e explorar indígenas. John Smith – o eventual interesse amoroso de Pocahontas – é louvado por isso. Ao final do filme, se faz um esforço gigantesco em frisar que existem “colonizadores bons” e “colonizadores maus” – representados pela figura do Governador Ratcliff, um homem de extrema ganância. Se o filme acerta em apresentar visuais pomposos e uma estética mágica, falha em tornar a Pocahontas um personagem de verdade. A problemática se encontra no fato do conflito ser resolvido não pelo bem do seu próprio povo, mas para salvar o suposto “colonizador bom”, que magicamente reconhece os nativos como “seres humanos”. Nesse caso, o meu sentimento ao final do filme foi de quase felicidade. Porque ainda que a animação faça um trabalho excelente em apresentar belos visuais e dar relances da beleza da relação do povo da Pocahontas com a natureza, falha miseravelmente na construção histórica daqueles personagens. Além de apresentar um contexto extremamente controverso ao final, ao tentar balancear o John Smith capturado com o maior guerreiro do povo indígena sendo assassinado.
Nada disso é por acaso. As duas produções citadas acima são estadunidenses e produzidas por grandes estúdios. Desenhos que atingiram milhões de pessoas e atingem até os dias atuais. Ainda que tenham formas diferentes de lidar com o indígena, o viés ocidental e nacionalista é muito claro. É difícil imaginar um mundo onde a Disney – de todos os estúdios – produziria um filme de alcance gigantesco criticando seus colonizadores. É uma ideia realmente utópica, visto que os Estados Unidos têm esse problema até os dias de hoje. O resultado dessa hegemonia de produções rasas ou estereotipadas é tanto a reprodução desses estereótipos preconceituosos (de que “índio faz dança da chuva e fala trocando pronomes”), como também é a falta de conhecimento e reconhecimento da cultura real dos povos originários da América. E é exatamente por isso que histórias em quadrinho como Crônicas Ameríndias são tão importantes.
Crônicas Ameríndias é uma compilação de contos produzidos pelos argentinos Gustavo Schimp e Enrique Alcatena, originalmente publicados para o mercado italiano, mas que foram publicados no Brasil pela editora Comix Zone em um encadernado fenomenal. A HQ conta com 10 histórias que não têm ligações diretas entre si, além da primeira e da última, que contam a história de Kyehe contra o Wendigo – uma enorme criatura que habita os bosques dos Grandes Lagos e devora humanos – e seu desfecho. Honra, deveres, espíritos malignos e a força da natureza são pontos centrais de todas as histórias. Entretanto, o que chama mais atenção é como a narrativa em si desses contos é estruturada. Porque em cada última página lida, o sentimento residual é que a natureza sempre vence. Estamos acostumados a lidar com histórias onde a natureza é subalterna ao homem e um objeto de domínio, uma linha de pensamento eurocêntrica moderna. Enquanto aqui não. Histórias como “O voo do Corvo”, “Uma pequena abertura” e “Cara Manchada” explicitam que não importa o esforço e os meios pelos quais se tenta ludibriar a natureza, ela sempre vence. Um dos contos mais interessantes nesta coletânea é sobre quatro Iroqueses que, pelo interesse em comum por uma arma de fogo, decidem contar histórias de caça, travando uma competição na qual o contador da melhor delas ficaria com o objeto. Esse conto prova para nós, leitores, a pesquisa intensiva que foi colocada em prática no projeto para entender a fundo a cultura desses povos nativos do nordeste da América do Norte, assim como nosso problema com criar expectativas. E essa é a questão central de porquê Crônicas Ameríndias é um produto essencial para quem tem interesse pelo assunto.
Ao criar histórias com indígenas em posições de protagonismo, também se assume uma nova forma de contar histórias. Como é descrito em “O caçador do coração sombrio”: existem histórias para cada situação da vida, que deixam uma moral educativa e são interpretadas como mais do que simples conselhos dos anciãos. Histórias para serem ouvidas só por homens ou mulheres. Histórias secretas que o xamã conta apenas para seu discípulo. Mas também há histórias obscuras, guardadas nas profundezas do coração de seus protagonistas (pp.101-102.). Essa passagem é a que melhor define o que é a história em quadrinhos. Uma compilação de histórias para cada situação da vida, e outras guardadas no coração de seus protagonistas. Histórias em que a natureza vence. Histórias que encerram e recomeçam o ciclo da vida. Ou simplesmente histórias que não se encaixam em padrões epistemológicos com os quais estamos acostumados, como é o caso dos quatro Iroqueses.
De forma geral, a arte soturna de Alcatena exprime de forma fenomenal a atmosfera sombria e gélida dos bosques dos Grandes Lagos, assim como transmite a presença temerosa dos espíritos malignos e criaturas mágicas. Crônicas Ameríndias é uma HQ essencial não apenas para entusiastas do tema, mas também para quem já admira o formato. Foi feita com base em uma grande pesquisa para poder apresentar essas histórias de forma correta, além de retratar os grupos presentes nas histórias e toda sua mitologia. Assim como comentado no início do texto, desconstruir imagens que carregamos desde a infância não é nada fácil, e com toda certeza é mais fácil um jovem ter contato com Pocahontas do que com Crônicas Ameríndias. Mas a importância de se ter obras com protagonismo indígena é inimaginável, e uma pessoa parar de reproduzir estereótipos preconceituosos já é um grande começo.
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Data de Publicação: 28/09/2022
Autoria: Bernardo de Melo Scalercio
Como citar esta resenha:
SCALERCIO, Bernardo de Melo. "Crônicas Ameríndias". In: Experiências de Descolonização dos Corpos e Saberes. Vol.1 2022. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Departamento de História. Disponível em: https://www.descolonizandoconhecimentouerj.com/in%C3%ADcio/experi%C3%AAncias-de-descoloniza%C3%A7%C3%A3o-dos-corpos-e-saberes/arquivo/resenhas
ISSN 2764-9407
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